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domingo, 7 de abril de 2013

Uma tomada de decisão por Willian Cruz do Vá de Bike

Este texto, essa tomada de decisão corajosa mas ao mesmo tempo muito pensada é o que muitos profissionais precisam fazer, um exemplo.

Esse é um dia em que tomei uma decisão que vai mudar minha vida. Uma sucessão de pequenas oportunidades configuraram, ao longo de mais ou menos dois anos, um cenário bastante favorável a uma mudança grande, que vai me fazer jogar pela janela tudo que aprendi até hoje sobre carreira e trabalho.

"Você tem que trabalhar numa multinacional", me diziam quando eu estava me formando em administração de empresas e análise de sistemas. "O negócio é prestar concurso público", diziam depois. "Tem que arrumar um emprego no Canadá ou na Austrália", aconselhavam mais adiante. Mas nunca fui atrás de nada disso. Nunca tive paciência pra vestir diariamente um terno azul e me juntar a um cardume, ou de mudar para outro país para poder ter mais dinheiro. Sempre achei que o custo de ganhar muito dinheiro era muito alto.

Sempre trabalhei com o que gostei. Se eu não gostava de um trabalho, mudava para outro. Teve empresa em que fiquei poucos meses, vi que não dava certo e parti para outra, algumas vezes para ganhar até menos. Me diziam que isso era errado, que "queimava o currículo", mas nunca me preocupei muito porque o trabalho realizado sempre foi bom e as oportunidades surgiam quase sempre por indicação. Diziam que eu tinha que me especializar na linguagem A ou B, que era "o que dá dinheiro hoje", ou investir no curso X ou Y para ser um master blaster microsoft, mas eu preferia identificar uma linha de atuação em que eu iria me sentir bem e focar nela para fazer direito e com gosto. Nas poucas vezes que tentei fazer algo só para impressionar e ser recompensado a mais por isso, não deu certo.

Nem sei se tem nome para essa mudança na forma de trabalhar, mas é claro para mim hoje, aos 39 anos, que há uma diferença grande entre "emprego" e "trabalho". Um trabalho não precisa ser um "emprego". Trabalho é realização, é resultado, é satisfação, sensação de dever cumprido. Paz de espírito é mais importante que dinheiro. E outra boa lição aprendida com o tempo também me ajudou: o importante é focar no que você é bom, no que gosta, no que faz com prazer e buscando a perfeição.

E, de certa forma, é isso que estou fazendo agora. Tanta gente me dizendo que faço um trabalho bom na área de bicimobilidade (até o Google Analytics me diz isso claramente), que acabei levando a sério. Sim, vocês me convenceram. Decidi me retirar da área de TI para focar na mobilidade por bicicletas, trabalhando em parte do tempo para o Vá de Bike e em outra parte para um projeto novo do qual vocês saberão em breve.

O trabalho no Vá de Bike nunca foi um projeto de vida, uma busca de remuneração. Sempre foi algo que eu sentia que precisava fazer, uma das maneiras que encontrei para tentar mudar o mundo, ajudando as pessoas com informação e incentivando a mobilização. Informação para mudar realidades individuais e coletivas, para catalisar mudanças, para inspirar novos agentes dessas mudanças. Informação que, talvez, tenha salvado algumas vidas, ainda que eu nunca vá saber. Nem as pessoas que possam ter sobrevivido graças a pequenas ou grandes mudanças decorrentes desse trabalho saberão disso, mas não é o que importa. Se uma única morte tiver sido evitada pelo trabalho que faço no VdB, essa mais de uma década de esforço já terá valido a pena.

Sou grato ao patrocinador atual do Vá de Bike, que me dá certa segurança para dar esse passo; ao antigo, que deu o empurrão inicial e inspirou o início da mudança; aos amigos que sempre me incentivaram a tomar essa decisão; aos que acreditam no meu trabalho e ajudam a criar "momentum", de formas que eu talvez nunca venha a saber; à minha esposa apreensiva, que às vezes se assusta com a maneira como eu levo tudo isso tão a sério; aos meus filhos, que me inspiram a buscar um futuro melhor; à minha mãe, que vai surtar; às meninas que me ajudam a colocar conteúdo no site, permitindo algumas horas a mais no tão prejudicado sono e acrescentando diversidade de ideias e temas ao VdB; e a todos os demais "gregários", que de várias maneiras me deram força ao longo dos anos para que eu continuasse aumentando o ritmo sem desanimar.

Dou hoje uma pequena pedalada a mais, mas com toda a ansiedade, tensão e carga emocional de uma Paris-Brest-Paris. Nos vemos pelo caminho.

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